Covid-19: entenda como essa doença age no corpo e como é o tratamento hospitalar
- Rafael Bastos

- 20 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de abr. de 2021
O ciclo da doença inicia quando o vírus, através de gotículas expelidas pela boca ou nariz de pessoas contaminadas, entra em contato com a mucosa oral (boca), mucosa nasal (nariz) ou conjuntiva (olhos) de outra pessoa.

Esses locais servem como porta de entrada do vírus ao organismo; por isso a importância de protegê-los usando máscara e lavando as mãos com frequência, visto que inevitavelmente a levamos à boca ou olhos.

Uma vez dentro do organismo o vírus invade as células principalmente dos pulmões, mas também do coração e do trato gastrointestinal - estômago e intestino.
Dentro dessas células o vírus se multiplica e em seguida causa a destruição da célula invadida.
Após promover essa destruição, o vírus é liberado novamente no organismo e volta a invadir novas células. Nesse momento, pode também ser transmitido a outras pessoas através das gotículas expelidas pela boca e nariz ao conversar, espirrar e tossir.

Todo esse processo de invasão e destruição faz com que o corpo reaja para tentar combater o invasor desencadeando uma reação inflamatória** (inflamação).
**O que é a reação inflamatória?
Sabe quando você corta o dedo e no dia seguinte o local do machucado está vermelho, inchado e dolorido? Isso é a reação inflamatória. É uma sequência de respostas do corpo em resposta à invasão de algo que não deveria estar ali, visando proteger o organismo.
No caso do dedo, na maioria das vezes, o corpo consegue vencer os microorganismos que ali estavam e em poucos dias esse processo é encerrado. No caso do COVID, por se tratar de uma invasão bem mais ampla e por um vírus ainda desconhecido pelo nosso corpo, a reação inflamatória é bem maior e mais duradoura.


Tanto o processo de destruição celular, quanto a reação inflamatória podem ser tão intensas a ponto de comprometer a função do órgão. São nesses casos que é necessário o uso de respiradores artificiais que auxiliam o funcionamento do pulmão enquanto o corpo - através da reação inflamatória - luta contra o vírus invasor.
*A infecção e inflamação nos pulmões (alvéolos) é o que justifica o padrão chamado de "vidro fosco" observado em uma tomografia de pulmão em pacientes com a COVID-19.

Tamanha é a reação inflamatória do corpo ao vírus invasor que além de comprometer a função do órgão, pode também causar um desbalanço no sangue tornando-o mais propÍcio à formação de coágulos.
*O que são coágulos? Voltando ao exemplo do corte no dedo, já observou que momentos depois do corte, para de sair sangue pela ferida? Isso ocorre graças à formação de um coágulo no local.
Coágulos são aglomerados de células sanguíneas que podem funcionar com uma "rolha".
No exemplo do corte do dedo trata-se de uma lesão pequena e consequentemente a formação de um coágulo apenas naquele local. Já no caso da COVID-19 a reação inflamatória é bem mais ampla propiciando a formação de coágulos que podem obstruir não só uma ferida, mas todo o fluxo de sangue para um órgão, colocando-o em risco.


Agora que entendemos como o corpo reage à infecção pelo Coronavírus, conseguimos entender quais são as principais medidas de cuidado em ambiente hospitalar para com pacientes com COVID-19.
1. Manter a capacidade de oxigenação/respiração comprometida pela doença
Como dito anteriormente, tanto o vírus como a reação do corpo à infecção podem comprometer a capacidade de oxigenação e respiração. Por isso em alguns casos se faz necessário oferecer oxigênio suplementar para suprir uma deficiência de oxigenação. Em outros casos quando a capacidade de respiração está ainda mais comprometida, faz-se necessário dar o suporte do respirador mecânico para suprir a deficiência pulmonar. Também podemos lançar mão de manter o paciente em posição prona (com a barriga para baixo). Essa posição pode parecer desconfortável aos olhos de quem vê, porém os estudos mostraram grande eficiência no aumento da capacidade pulmonar já que nessa posição o pulmão - que está mais inchado pela reação inflamatória - fica mais livre para exercer sua função.

2. Evitar a multiplicação do vírus dentro do organismo
Nesse sentido busca-se medicamentos que possam auxiliar o paciente a combater o vírus ou a desacelerar seu processo de multiplicação. Quando estamos falando de bactérias há antibióticos específicos para a maioria dos tipos de bactérias. O mesmo ocorre com alguns vírus, porém no caso do COVID-19 há uma grande dificuldade em encontrar um medicamento que consiga combatê-lo. Recentemente a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) observou que o Remdesivir, antiviral usado contra o Ebola, tem capacidade de acelerar em alguns dias o processo de combate à COVID-19 em um perfil específico da doença. Isso quer dizer que aqueles em estado moderado, internados em hospital, sem necessidade de respiração mecânica auxiliar podem ser beneficiados com esse medicamento. E veja bem: não foi observado menor mortalidade em quem o usou, mas sim uma maior velocidade de recuperação em quem já estava se recuperando.
3. Controlar a inflamação
Como visto, o processo de defesa do corpo (reação inflamatória) pode ser tamanho a ponto de ser deletério, por isso uma das estratégias é utilizar medicamento antiinflamatório para controlar essa reação.
4. Controlar a coagulação
Também em decorrência da intensidade do processo inflamatório, pode haver a necessidade de controlar a formação de coágulos. Isso é feito através de medicamentos que inibem essa resposta indesejada. A movimentação regular do paciente também evita a formação de coágulos.
Coronavírus e pneumonia:
Além das preocupações citadas, também podemos ressaltar o alto risco que os pacientes contaminados pelo Coronavírus tem de desenvolver pneumonia. Isso tanto pela ação do vírus quanto por bactérias que aproveitam a queda da imunidade.
Coronavírus e coração:
Além do pulmão, o vírus acomete também o trato gastrointestinal e o coração. Isso nos traz grande preocupação por se tratar de um órgão vital. Em relação ao comprometimento cardíaco:
- Estudos mostraram que 12% dos pacientes que internaram por COVID-19 e que não tinham nenhuma doença cardíaca prévia, a desenvolveu após a internação.
- Todos as pessoas que tiveram COVID-19 (que necessitaram internação ou não) devem ser consultados por um cardiologista em até 60 dais após a resolução da doença ativa.
- A SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) recomenda que todos que tiveram COVID-19 consultem com cardiologista antes de retomarem as atividades físicas.
Como você que está lendo pode auxiliar nesse processo?
Evitando de se expor à contaminação. Faça isso usando máscara SEMPRE que possível; lave as mãos com frequência e em especial sempre antes de levá-las à boca, nariz ou olhos.






Comentários